12.28.2011

Das voltas

Ando às voltas sem conseguir dormir. Os meus olhos fecham, as horas passam sem que eu dê por isso, o sol nasce sem me incomodar. Mas não durmo. Os pássaros acordam, enchem o ar com o seu chilrear. Mas eu não ouço. Não durmo. Eu não durmo. Não estou cansado. Subo e desço escadas sem me incomodar com as pernas que já não dobram, com os pés que já não sentem. Mas eu não me canso. Eu não durmo. As horas passam, os pássaros acordam. A lua levanta-se, muda, desaparece, muda, volta a aparecer. As horas passam. O sol volta a nascer. A chuva cai, mata, volta a dar vida. Tudo renasce. Tudo floresce. Mas as horas não passam. O sentimento não muda. Eu não durmo.

12.13.2011

Vestido preto

Já não escrevo aqui há tanto tempo. Não digo que é tempo de mais. Mas é muito. Não tenho muito que dizer. Tenho muito que sentir, agora dizer, escrever, explicar, já não faz muito sentido.
Andava parado. Sossegado e feliz. Sozinho é um facto, mas era feliz. Estava feliz com o que tinha, com o que sentia, com os meus objectivos e com os meus planos.
Até que decidiste aparecer. Agitaste tudo, involuntariamente provavelmente. Ou não. De repente a minha vida tomou outro significado. Tinha um objectivo que não fosse apenas profissional. Tinha uma paixão, uma vontade de fazer mais e melhor.
Tenho defeitos como toda a gente. Não sei lidar com certas coisas, tenho medos, receios, impulsos. Digo as coisas de maneira errada, sinto as coisas talvez de maneira errada. Mas nada disso invalida o que aconteceu, não lhe consegue retirar a magia, a intensidade.
Quanto mais modos de comunicação estiverem abertos menos se pensa no que se transmite. Porque o ruído gerado por esse excesso de informação provoca desvios e desfoques. É isso que sinto. Já disse isto mil vezes. Sinto falta do contacto humano, da emotividade no olhar, no mistério do sorriso. Um toque na mão, um abanar o cabelo, uma festa, um olhar. O olhar. O teu olhar. O teu toque, o teu sorriso. O teu riso. Quando não há nada disto parece que tudo perde a magia. E entra o conflito. Entra a vontade, a necessidade. Entra o desespero, as asneiras, as palavras mal ditas, as acções mal medidas. Porque quando se pensa demais, faz-se tudo ao contrário.
Sou espontâneo por natureza. Para o bem para o mal. Mas também sou genuíno. A mensagem por detrás tudo o que digo é real, é verdadeira. É isso que tens que perceber, não o literal.
Já é tarde. Incrível como passou tão pouco tempo e já se fez tanta coisa errada.
Fica a memória de uma flor e um beijo. E um abraço. E esperar que o tempo, esse termo vulgar, efémero e por vezes triste, esse tempo que tu não tens, esse tempo que eu queria partilhar, faça o seu papel. E um dia, uma hora, um minuto, algo aconteça que mude isto tudo. Que volte à magia e à paixão.