9.27.2012

Ritmo

Sinto-me a navegar. Perdido num mar de sensações. Emoções que não sei explicar. Aliás, nem se explicam acho. Perdido num mar de sensações. Lá está, a navegar. Em círculos, com as correntes, por vezes sem conseguir dominar o caminho. Nem o destino, nem o início. Perco-me nos objectivos, perco-me nas ferramentas, no barco, nos remos, na bússola. O Norte confunde-se com o Sul. O vento sopra, faz-me rodopiar. A chuva tolda-me a vista. Entro numa espiral sem controlo, num desassossego próprio de quem não sabe o que quer. E está bem com isso. Porque o gozo todo desta vida está nisso. Está em deixarmos que o ritmo da vida nos tire da nossa zona de conforto. Nos surpreenda, nos atinja com tamanha violência, por vezes crua, nem sempre ideal, mas sempre, sempre, com um objectivo. Que não se sabe qual é, nem se quer saber. Apenas basta saber que há um, e deixar a coisa fluir. Porque no final tudo faz sentido. Porque tudo tem um final. Mas para esse final chegar, o princípio tem que acontecer. E o caminho, sinuoso, mete muito mais piada. Quando não se sabe onde se quer chegar, nem como lá chegar. Apenas que há um caminho. E isso basta. O vento, o descontrolo, a crueza e fealdade da realidade, tudo isso encaminha, ajuda, empurra. Para qualquer lado. É isso que interessa.

9.20.2012

Alma

Olho-te nos olhos. Leio-os, entendo-os. Sinto-os como se fossem meus. Cada pestana, cada sombra. As cores faiscantes empurram-me para o delírio. Por momentos esqueço quem sou. Neste momento nada mais interessa. Apenas esse brilho. Essa mensagem que a esforço tento entender. Sorris. Sacodes o cabelo. Voltas a olhar para mim. Alguma vez notaste que aqui estava? Alguma vez me sentiste como eu te sinto? Alguma vez olhaste para dentro de ti própria? Alguma vez te reconheceste? Comunica comigo. Contigo. Porque no fundo eu e tu somos o mesmo. Somos a mesma essência, os mesmos suspiros, os mesmos arrepios. Só eu e tu.

9.19.2012

Vida

A vida é o que nunca foi. O eterno jogo do poderá ser que e nunca é. Do estar quase mas nunca concretizar. O que queremos fazer mas que nunca acontece. Porque no fundo a vida nunca é nossa. A vida é de quem a vive. De quem a poderia viver. A vida é dos outros. Mas se a vida é o que nunca foi, então afinal é nossa. Só porque não é de mais ninguém.

9.12.2012

A escrita

Quando se escreve qualquer coisa, supõe-se a leitura. É um facto, sempre que uma palavra é escrita, será lida. Invariavelmente é isto que acontece. Não há outra hipótese. Assim como qualquer palavra proferida será obrigatoriamente escutada. Mas não se pode escrever sobre qualquer coisa. Ou melhor, poder pode, mas essa qualquer coisa, à medida que é escrita, passa a ser A coisa sobre a qual se está a escrever, perdendo o título de qualquer. Assim como também não se pode falar sobre qualquer coisa. Quanto muito pode-se escrever e falar sobre escrever e falar sobre qualquer coisa. E aí o qualquer continua seguro. Há todo um poder oculto e muitas vezes não reconhecido nas palavras. Sâo capazes de causar dano, dor, prazer, entusiasmo, arrepio. Ondas sonoras a multiplicarem-se no cérebro, inundando-o de sensações. Tom, cadência, repetição. Tudo em sintonia, em agonia. É que no fundo, a única coisa que queria era escutar-te.

9.10.2012

Alone in the Dark

Não compreendo. Quero, mas não devo. Insisto, mas não devo. Interrogo, mas não devo. Caramba. A vida é simples. Ou não.