6.30.2014

O peso

Carregava nos ombros o peso da desilusão. Caminhava curvado, olhos cravados no chão, mãos enfiadas no bolso. Um assobio ligeiro ia acompanhando os decibéis que lhe eram debitados directamente no cérebro, numa tentativa frustrada de o calar. Passo célere, sem tempo para apreciar o caminho. Tudo era urgente. O destino, esse, incerto.
Caminhava invísivel. Marcas mínimas da sua presença. Passos leves, sem dar impressão. Sem rasto não há prova. Sem vestígio não existiu, não aconteceu. E tudo o que é impossível de seguir é também impossível de repetir. Cada passo era único, cada movimento uma repetição de momentos irrepetíveis.
Caminhava sozinho. Sem ninguém à sua volta, sem ninguém que lhe atrapalhasse o caminho. Sem ninguém que o obrigasse a desviar, que o obrigasse a levantar a cabeça.
Sozinho desapareceu. Sem deixar rasto. Sem ninguém o procurar. Sem ninguém o lembrar.